Conheço Gilvan Fernandes de Lima há mais de vinte anos e venho acompanhando sua trajetória e sua luta para afirmar os múltiplos talentos de que é dotado. Poucas vezes temos oportunidade de testemunhar de perto um artista tão multifacetado como ele o é. Nas artes visuais, não há campo em que não seja capaz das mais admiráveis realizações.

Psicólogo do Centro Estadual de Educação Especial, seus colegas presenciaram, em diversas ocasiões festivas, sua enorme criatividade, capaz de transformar os materiais mais improváveis em decorações belíssimas, seja no Natal, seja no São João e em outras comemorações do CEESP.

Tendo se dedicado à maquiagem, Gilvan, guiado por seu profundo senso estético, faz dos rostos das mulheres verdadeiras obras de arte.

Mesmo em atividade em que teve uma atuação apenas episódica – um muro pintado por ocasião de um  festival de artes em Pau dos Ferros; uma vitrine montada numa loja de um conhecido – Gilvan deixou sua marca de artista.

Não bastassem estes talentos, Gilvan ainda encanta as plateias com suas performances, inspiradas em Ney Matogrosso, assim como sua bela voz.

Seus dons artísticos se manifestaram muito cedo. Já na infância, as artes atraíram todo seu interesse. E sua vida tem sido pautada por uma luta interminável para dispor de seus talentos. Às vezes, um talento pode ser vivido, não como um dom, mas quase como uma maldição. Desta luta poderemos ter uma amostra na presente exposição de suas colagens. É aí que se manifesta, em todo o seu vigor, a arte de Gilvan.

Jacques Lacan, psicanalista francês, afirma que o pintor “convida aquele a quem o quadro é apresentado a ‘depor’ ali seu olhar, como se depõem as armas. Aí reside o  efeito pacificador, apolíneo, da pintura”. E Alain Didier-Weill, outro psicanalista francês, acrescenta: ” a que se deve o fato de que a Coisa humana – das Ding -, que remete para o que, em nós, é o real mais velado, possa se desvelar, quer na vergonha, enquanto coisa enrubescera tendo perdido qualquer segredo, quer numa produção estética que, por intermédio da beleza, se transmite como um segredo cujo caráter absoluto se deve ao fato de que ele desarma não somente o saber como também o poder maléfico do olhar?”

Diante de um quadro de Gilvan, não há como ficar indiferente. Cada um, a sua maneira, a partir de seus títulos altamente sugestivos, causa um impacto sobre o espectador, na medida em que o convoca a olhar e a ver algo para além do quadro mesmo. Gilvan consegue colocar sobre a tela uma composição que captura nosso olhar por nos apresentar algo do inominável que reside no fundo de nós mesmo. Podendo contornar este algo com uma colagem de beleza ímpar, somos levados a uma espécie de apaziguamento, em que o horror que nos assaltaria diante deste real é transformado em fruição estética.

É neste sentido que entendo o aforismo de Picasso: ” A arte é uma mentira que nos permite conhecer a verdade.”

 

Natal, 16 de abril de 2016

Ruth Jeunon