O Céu de São Tomé
O céu do amanhecer em São Tomé é mesclado de variações de cores, desenhando no firmamento, nuvens brancas sobre o azul de anil, onde revoadas de pássaros pontuam o espaço sideral, com o formato de suas asas e um canto especifico dos pássaros que o homem não consegue decifrar; contemplando e deleitando-se com o ritual da natureza que é real e ao mesmo tempo abstrato, como os pensamentos que envolvem nossas emoções.
Nas noites, este céu acentua-se em azul de cromo médio para o escuro, tornando esta visão composta por formas estelares que parecem palpitar sob “o signo da luz” criado pela busca da descoberta do espaço que ameniza a angústia humana.
O azul deste céu assemelha-se ao manto de Nossa Senhora da Conceição, que esmaga a cabeça da serpente do pecado, vomitando a maçã proibida, prevalecendo a vitória da imaculada sobre o pecado, com seu manto protetor confundindo-se com as serras de São Tomé que guardam paisagens e figuras de animais, os homens e suas crenças e descrenças.
O jornalista e escritor Vicente Serejo sugeriu o tema desta exposição, O Céu de São Tomé; por sua vontade de pintar o céu de Macau-RN, sua terra de nascimento e de suas origens, tendo também como padroeira Nossa Senhora da Conceição, confiando esta missão primorosa a minha pessoa.
Pinto o céu de São Tomé na configuração comparativa aos anjos do presépio, os pastores e os carneiros, os reis magos e sagrada família com o menino Jesus na manjedoura.
Uma lembrança suspensa entre o céu e a terra que se misturam e se confundem com o desejo, alegria, atração e medo do desconhecido.
O céu de São Tomé no cair da tarde, no lusco-fusco, sempre me fez perplexo, pela mudança da luz solar para outra esfera e a sensação do desfalecimento das coisas; “o ocaso de um dia que terminou” banhado pelas sombras da melancolia.
Quando fui desterrado de Minha Aldeia para o Seminário de São Pedro – Natal, em 1964, levei comigo as cores do ambiente que me cercavam, inclusive as serras azuladas com a transparência de uma água marinha.
Desenvolvi as técnicas de pintura no Curso de aperfeiçoamento em aquarela, guache e óleo sobre tela, na Escola de Belas Artes – UFMG – Belo Horizonte, em 1978, estudando sobre o processo de criação artística, buscando uma identidade pessoal, com elementos plásticos simbólicos, realizando sincronias de formas na composição de figuras e espaços geométricos,   pelas cores das emoções.

Erasmo Andrade