Nós nas curvas de João Natal

Um duplo apelo – formal e relacional – emerge a partir do próprio título que João Natal deu à sua obra em exposição. O apelo formal impregna-se nos registros gráficos e nos objetos nos quais se exploram imagens do nó e das curvas, ora em duas, ora em três dimensões. Uso a expressão “explorar” não apenas no sentido de que o artista aborda, como um simples tema, as formas do nó e das curvas; inclusive como pesquisa, a exploração feita também compreende um meticuloso exercício técnico possível ao artista, já que este transita com maestria pelo desenho e pela gravura, pela escultura e pelas montagens (assemblagens).

É no apelo relacional em que percebo mais vivamente a curva como figura metafórica para os des-caminhos técnicos e para os encontros-nós que o percurso criativo do artista empreende conosco, o público. Antes, outros nós são atados, a começar pelo diálogo com o gravador Rossini Perez e sua obra, como uma referência/reverência explícita que pode ser estendida para Max Bill, por exemplo, e que operam transcodificações em instâncias sintáticas e semânticas no âmbito de um inteligente jogo artístico e estético. Com estes artistas, ou com mais outros, os nós se se estendem ao vínculo histórico: a arte nova, a arte sincronizada com o hoje não prescinde da arte de sempre e das tradições que esta cria.  Mas é com Rossini Perez, por ser seu conterrâneo, que João Natal mantém ou redefine um nó relacional com a cultura circunstante e, mais uma vez, conosco. É nesta cultura local, com os alfenins, os armadores e punhos de linhas também curvas, que o artista, por fim (?), tece e arma redes de incontáveis liames conceituais configurados na curva/fita de Moebius, re-apreendida nas superfícies infinitas de algumas de suas esculturas.

Experimentar os meandros, as curvas desta exposição/viagem de João Natal será, certamente para cada um, tão criativamente rico como o foi para mim.

Vicente Vitoriano

Out. 2017