Os fins da linha

Todos os fins da linha, da linha grafada no espaço bidimensional, levam à imaginação ou já são inventividade e regozijo. Desde sempre, a linha continua. Quando a cor por vezes busca seus territórios, a linha subjaz, dirigida que é pelo gesto, pelo traço. Deixar-me levar pelos jogos que elas – a linha e a cor empreendem é o que me sustenta no constante desejo do maravilhoso.

Nesta exposição, originalmente composta por duas séries de desenhos, em geral coloridos, quis conjugar as também talvez batalhas entre a linha e cor. Do meio do fogo, nem sempre escapo ileso, tendo às mãos “um maço colorido, cheio de papel timbrado de desenhos”.

O primeiro momento, a primeira série, teve início com uma formulação de raiz construtivista, embora tenha sido realizada a mão livre. Sua criação objetivou, em específico, o uso de tinta ou gel coloridos em canetas, material que determinou a exploração da linha como elemento primordial. Em algumas obras desta série, insinuam-se ou mostram-se figuras como troncos e raízes, levando para as imagens um novo embate, desta vez entre a forma pura e a representação.

Como sempre, em minhas invencionices, fui tomado pela fadiga e a experimentação com as canetas deram lugar, num segundo momento, a um retorno à aquarela, ao nanquim colorido e ao guache, mas a linha feita a nanquim ainda se manteve protagonizando as composições em equilíbrio com as cores. Uma forma ovoide que se repetia sugeriu-me uma cadeia de memórias, capsulas de memória.

Planejados para um espaço reduzido, os dois conjuntos tornaram-se exíguos para a Galeria Conviv’art. Daí, decidi fazer uma amostragem de minúsculos estudos que tenho reunidos com o título de “Livros”. Mais que as duas primeiras séries, os “Livros”, de que exponho algumas “páginas”, são testemunhas de meu constante enlevo com o desenho.

A linha continua.

Vicente Vitoriano